19 dezembro 2010

Fim do mundo


Estou perfeitamente mobilizado, motivado e serenamente pró-activo para o fim do mundo, não obstante as dificuldades que me têm sido colocadas. Pois se tem sido tão complexo determinar a origem do mundo, o momento da origem do mundo, parece-me pouco provável tão acertada capacidade de determinar o seu fim, não obstante a minha mobilização. Têm havido tantos fins do mundo nos últimos tempos que receio falhar o fim do mundo correcto.



Acho interessante a expressão fim do mundo. No domínio espacial, geográfico, quando queremos dizer que uma terra ou lugar fica looooonge, bem distante ou de difícil acesso, dizemos que fica no fim do mundo. Por outro lado, no domínio temporal, quando nos referimos ao fim do mundo, parece que fica beeeeem perto. O que têm os dois domínios em comum? O medo! Um fica assustadoramente longe... o outro assustadoramente perto. Não obstante o medo generalizado, mantenho-me mobilizado para o fim do mundo. E a palavra domínio (espacial e temporal) ligado ao conceito "medo" foi propositadamente utilizada. O domínio pelo medo, entenda-se.

Bem, dada a extrema complexidade na pré-determinação cientificamente exacta do momento exacto do fim do mundo, resolvi, dada a minha convicta mobilização, adoptar este termo quotidianamente. Mas apenas no domínio temporal, numa outra forma, normalmente designada como "fim-dos-tempos". E com um sorriso nos lábios e uma satisfação real.

Vê o seguinte, normalmente no final do dia de trabalho, quando saímos para o regresso a casa, dizemos "até amanhã!". Fazêmo-lo com alegria, alívio e satisfação. E só nos estamos a referir a menos de 24h. Em cada semana que passa, lá para sexta-feira, quando deixamos os nossos empregos e regressamos a casa, desejamos com um sorriso e uma satisfação real, "bom fim-de-semana". A alegria é ainda maior. E estamos só a falar de 2 dias. Seguindo a mesma lógica temporal, passei a dizer sempre "bom fim-dos-tempos!". Dada a indefinição do mesmo período jogo pelo seguro e digo-o sempre, e depois, dada a tranquilidade que se espera no momento seguinte ao fim-dos-tempos, parece-me que a alegria deve ser proporcional comparada com a dos 2 dias do fim-de-semana.

... (pensativo)
... (ainda pensativo)

Sinto uma determinada angústia nas pessoas a quem, com alegria, desejo um período de descanso tão prolongado e retemperador. Creio que a angústia se prende com a incógnita do regresso... é que, por muito mal que nos corra a semana, e por muito bem que nos saiba desejar bom fim-de-semana e desfrutar do mesmo, sabe-nos ainda melhor saber que há um regresso associado na próxima segunda-feira. No caso do desejo do bom fim-dos-tempos, o regresso associado é indefinido ou inexistente. Então a satisfação maior não está na certeza do momento do sair para, mas sim na certeza do regresso a.

... (pensativo - agora fui mais rápido e só pensei uma vez)

Aparentemente a satisfação estaria associada à "certeza". Ou seja, só temos satisfação no que é certo e receio no que é incerto. Mas se o incerto se manifesta e sucede, a satisfação é redobrada. Então, seguindo a lógica da coisa, se eu regressar no final do fim-dos-tempos, uma vez que o regresso é infinitamente incerto, o momento do regresso deveria ser infinitamente satisfatório. Então, de facto, a melhor coisa que me poderia suceder e aos outros também, é irmos de fim-dos-tempos e voltar passado esse período.

Bom! Quem faz isto já não precisa de super-heróis! Aquela treta do bem contra o mal e outras trolitangas tão mundanas e corriqueiras tais como corrupção, mentiras, enganos e trapaças, já eram. Faziam parte do período antes do fim-dos-tempos. Um bem haja ao fim-dos-tempos que já eram.

Já agora, um Feliz Natal e um bom fim-dos-tempos.

Até mais!

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